domingo, 21 de novembro de 2010

Revelarte - O MASP nas ruas



Imagine deparar com um Van Gogh, um Renoir ou um Goya no muro de uma movimentada rua de São Paulo. É o que poderá acontecer com o pedestre durante todo o mês de outubro, quando o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) exibirá, para além de suas galerias, reproduções de quarenta obras do acervo na exposição RevelARTE – O MASP nas Ruas.O objetivo da iniciativa é levar à população reproduções de obras de arte do acervo do MASP, o mais valioso e representativo do Hemisfério Sul, em uma área com cerca de 1,5 quilômetro de raio em torno do museu. Mais visitado museu do país, o MASP reúne cerca de 8.000 obras de arte produzidas na Europa e Américas nos últimos 500 anos. As reproduções foram selecionadas pelo curador do museu, Teixeira Coelho.


Mais do que divulgar a coleção do MASP e convidar as pessoas a vir ao museu, esta iniciativa da Metalivros e Arquiprom tem o objetivo primeiro de tentar interromper um pouco o fluxo contínuo do trânsito pedestre pela cidade e chamar a atenção para alguma coisa que escapa ao cotidiano. Olhar e não ver a cidade, os edifícios ao redor, o pouco verde que sobra é prática recorrente na grande cidade. É preciso olhar onde se pisa para não torcer o pé, olhar para a frente e não colidir com o outro, talvez ficar atento a algum movimento impreciso e ameaçador, olhar para dentro e organizar a vida na cabeça – e assim o contexto urbano desaparece, se esfuma.

Reprodução de arte não é arte, claro. Mas o título desta apresentação não precisará de muitos retoques. As reproduções espalhadas pela cidade constituem quase uma performance tal como o termo é entendido em arte na proposta mais radical: algo que interrompe uma percepção ordenada por uma expectativa reiterada, algo que quebra ou pode quebrar uma rotina estabelecida, uma expectativa. Não se espera ver esse tipo de imagem neste tipo de cenário: o que as reproduções mostram está fora de lugar tanto quanto fora de tempo. A expectativa, verificada em outras cidades com experiências análogas, é que as pessoas mobilizem a atenção, o envolvimento, na tentativa de entender o que aquilo está fazendo ali. Por um segundo que seja.

De certo modo, a atenção requerida para desfrutar a arte dentro do museu já foi armada antes que o visitante chegasse à galeria e, com isso, paradoxalmente, já foi mesmo em boa parte desarmada: não é preciso convocar toda uma grande atenção para ver arte no museu, é natural que ela, atenção, aconteça, ela é quase cativa nessa situação – o que significa que, não raro, é quase passiva. De modo oposto, na rua o estranhamento é maior, mais agudo: que é isso, que faz isso aqui? Esse é o princípio que põe em ação o mecanismo de percepção da arte, em seu melhor papel, mecanismo que pode ser acionado nesta experiência de rua. Por isso o título desta apresentação não é assim tão forçado: alguma proximidade há entre a experiência de ver reproduções na rua e a experiência de ver arte em um lugar protegido, um lugar específico para a arte, um lugar onde a arte deveria estar. (Mas deve a arte estar sempre no lugar em que se espera encontrá-la, no seu lugar?).
Se as pessoas aceitarem este convite para vir ao museu, ótimo. No museu terão todo o tempo que quiserem e as condições básicas para uma experiência estética intensificada. Mas, se esta iniciativa contribuir apenas para interromper o deslocamento mecânico das pessoas pelas ruas, já terá cumprido seu papel... que é o da arte.

Teixeira Coelho, Curador-coordenador do MASP.

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